Um dos principais problemas da cidade de Arujá está na área da saúde. Por não ter um hospital público, os arujaense são obrigados a se deslocar a outros municípios, percorrendo, às vezes, até 150 km para serem atendidos por um médico especialista ou realizarem exames.
A cidade já possui o terreno e projeto para construção de um Hospital Regional, custeado pelo governo do Estado de São Paulo, porém, ainda não há previsão orçamentária para sua realização, sobretudo neste cenário de crise, nem trabalho ativo dos deputados estaduais e federais de nossa região para tal.
Segundo o IBGE, atualmente, Arujá possui mais de 85.000 habitantes, apresentando o maior crescimento populacional dos últimos 6 anos - 13,7% no período acumulado. Veja:
Crescimento Populacional - Municípios do Alto Tietê
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Fonte: IBGE Elaboração: Grupo Meu Negócio |
Nesta velocidade, considerando-se também os grandes empreendimentos imobiliários previstos ou já em execução em nosso município, além dos impactos do Rodoanel, a tendência é que ocorra um boom populacional, o qual irá impulsionar a demanda por diversos serviços públicos, principalmente, na área da saúde. Porém, se os investimentos não acompanharem o mesmo ritmo, há uma grande probabilidade deste serviço piorar ainda mais.
Com este cenário, urge a necessidade da construção de um hospital público em Arujá. Mas, será que com os próprios recursos, a cidade consegue arcar com este custo?
Inicialmente, vamos simular o custo deste empreendimento, além das despesas para sua manutenção, baseando-se em no artigo "Quanto Custa um Hospital", de Constâncio Viana, no qual traz um projeto de área de construída de 8.500 m², tendo-se 160 leitos, UTI, consultórios, triagem, ou seja, toda estrutura necessária.
Atualizando os valores utilizando o INCC (Índice Nacional da Construção Civil) e o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a construção do prédio ficaria em R$ 16 milhões. A compra de equipamentos e mobílias hospitalares estaria em torno de R$ 18,8 milhões, tendo-se a administração do hospital (mão de obra) estimada em R$ 38 milhões por ano (R$ 3,17 milhões por mês).
Em suma, o custo total para a construção e compra de equipamentos ficaria em R$ 34,8 milhões, além de R$ 38 milhões (por ano) para sua manutenção, tendo-se, assim, um total de R$ 72,8 milhões para iniciar o primeiro ano de funcionamento.
Segundo relatório da Prefeitura enviado à Câmara Municipal, a cidade deverá arrecadar, em 2017, R$ 256,9 milhões. Deste valor, em torno de R$ 56 milhões (22%) devem ser destinados para a saúde.
Logo, infelizmente, o orçamento municipal ainda não pode arcar com o custo total deste projeto. Mas, será que não há alternativas para construir este tão sonhado hospital?
Sim, existem! Mas, demandam uma gestão municipal com perfil arrojado e inovador.
Sim, existem! Mas, demandam uma gestão municipal com perfil arrojado e inovador.
O primeiro passo é em relação ao custo da construção. Uma das opções mais viáveis é a Prefeitura abrir licitação adotando-se o modelo de contratação "Built to Suit", no qual a iniciativa privada irá construir o prédio de acordo com as necessidades específicas do locatário, tendo-se, em contrapartida, um contrato de aluguel de longo prazo (geralmente de 15 a 20 anos). Em outras palavras, o hospital será construído e o único custo para o poder público será o pagamento do aluguel. Este modelo já foi adotado em cidades como Jacareí, Praia Grande, Campo Mourão, entre outras.
O segundo passo refere-se a compra dos equipamentos. Agora, chegou a hora de "gastar" todo o relacionamento com os deputados estaduais e federais da região do Alto Tietê para a obtenção de emendas parlamentares. Caso não tenha a resposta esperada, por que não tornar o hospital em uma escola de medicina, com o investimento de empresas e universidade privada?
Por fim, como obter R$ 3,17 milhões para a manutenção mensal? Esta solução passa, sobretudo, sobre os instrumentos de arrecadação de impostos municipal. Algumas sugestões:
1) Implantação do IPTU Progressivo: É necessária a revisão da cobrança do IPTU, utilizando-se os seguintes critérios:
a) Função da destinação do imóvel (comércio, indústria e residência);
b) Localização do imóvel (bairro de classe alta, bairro de classe popular);
c) Valor do imóvel atualizado (o valor venal, no qual se incide o IPTU, é muito discrepante em relação ao valor de mercado).
Certamente, haverá protestos. Porém, é uma injustiça social uma casa de um condomínio de luxo pagar o mesmo percentual de imposto em relação a um imóvel do Parque R. Barreto. Do mesmo modo, cobrar a mesma alíquota para residência, comércio e indústria.
2) Revisão do ITBI: Assim como o IPTU, o ITBI é calculado sobre o valor venal do imóvel, o qual não reflete a realidade do mercado. Nesta linha, surge a necessidade da criação de um setor, na estrutura fazendária, para o município adotar um valor venal próprio para o cálculo do ITBI.
3) ISS Bancário: O ISS é um imposto complexo, que exige uma estrutura tecnológica adequada. Por conta disto, vale a pena investir em ferramentas para fiscalizar, por exemplo, o ISS bancário, o qual poderá aumentar, segundo especialistas, em até três vezes o valor que já é arrecadado.
4) Fazer Mais com Menos: Administrar todas as despesas de maneira rigorosa, revisando-se todos os contratos públicos, primando-se pela eficiência dos gastos.
5) Parcerias: Quais são os ativos de propriedade da prefeitura que podem ter acordos para patrocínio, leasing ou naming rights para uso privado? Para se ter uma ideia, Londres arrecadou R$ 237 milhões, durante oito anos, do Banco Barclays, o qual adquiriu o direito de patrocínio do programa de compartilhamento de bicicletas da cidade. Será que não podemos adaptar esta ideia para nosso município?
Além disto, cabe destacar também a importância de se impulsionar o empreendedorismo, além de um programa de incentivo para a instalação ou expansão de empresas. Quanto maior o número de empresas ativas, fortes, maior será a arrecadação do ISS.
Em síntese, é possível sim construir um hospital público a partir da iniciativa do próprio município, porém, demanda-se arrojo e perfil inovador da Prefeitura e Câmara Municipal.
Cada vez mais, atender as demandas da população será um grande desafio frente a orçamentos reduzidos.
Criatividade e Inovação serão as chaves para solucionar estes problemas.
Caio Araújo é Economista, Sócio da Consultoria Grupo Meu Negócio. Morador de Arujá, SP.
Cada vez mais, atender as demandas da população será um grande desafio frente a orçamentos reduzidos.
Criatividade e Inovação serão as chaves para solucionar estes problemas.
Caio Araújo é Economista, Sócio da Consultoria Grupo Meu Negócio. Morador de Arujá, SP.